sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Contribuição Canibal

Devora-me!



Em teus olhos eu vejo a fome
Por mais que tentes não podes esconder
E mesmo quando me negas o olhar
Em tua boca eu percebo o salivar
Uma ansia que mal consegues conter

Teus ouvidos devoraram-me a alma
E tuas mãos agora desejam carne viva
Tremulam tímidas, infelizes, enjauladas
Feras famintas, pelo pudor acorrentadas
No desespero mudo da vontade cativa

Abraça-me forte, moendo-me os ossos
E quando me beijar, devora-me a face
Corta meus músculos com tuas garras
Rompe-me as veias como velhas amarras
Bebe meu sangue até que toda a dor passe

Mastiga minha carne, meus medos, minha vida
Separa-me as juntas até que este corpo já não seja mais
Eu te permito este prazer de possuir
De devorar até de todo me consumir
Neste desejo morbido, lacivo e voraz.

5 comentários:

  1. Não sei porque, mas isso me fez pensar a respeito dos hábitos alimentares de Augusto dos Anjos.

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  2. Elementar meu caro Michel...
    Nosso querido poeta era tão viceral quanto este poema...
    Na verdade, se ele tivesse escrito o poema acima teria incluído detalhes sobre o sabor das tripas, a textura dos miolos, etc.

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  3. Forte e sanguinolento como é a vida e suas relações carnais.

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